Saturday, September 10, 2005

Contribuição Matemática do Professor Dr. António A. R. Monteiro, por Luiz F. Monteiro

António Monteiro nasceu em Mossâmedes (Angola) onde o seu pai formava parte do exército colonial português. Fez os seus estudos secundários no Colégio Militar em Portugal.

Obteve a Licenciatura en Ciências Matemáticas em 1930, em Lisboa e o grau de Doutor em Paris, na Sorbonne, em 1936. A sua tese Sur la additivité des noyaux de Fredholm foi dirigida por Maurice Fréchet. Ao retornar a Portugal fundou a revista Portugaliae Mathematica em 1937, onde publica a sua tese, e com a qual começa a sua magnífica carreira de fundador de revistas, organizador de notas de seminários e cursos, formação de grupos de estudo e formação de discípulos.

Com uma ou outra excepção a Matemática pura não era cultivada em Portugal e, assim as escolas superiores limitavam-se a preparar professores das escolas secundárias, ou técnicos e cientistas que porventura a utilizariam. A pesar de que lhe foi impedido participar do ensino oficial, começa impulsando decididamente a matemática em Portugal.

Nesses anos desempenha as suas tarefas sem remuneração (1938-1943), e ganha a sua vida dando lições privadas e trabalhando num serviço de inventariação da bibliografía científica existente em Portugal. Estas dificuldades não impediram que criara em 1937 o Seminário de Análise Geral em Lisboa e em 1940 fundara com outros colegas a Sociedade Portuguesa de Matemática e a revista Gazeta Matemática, destinada aos estudantes universitarios.

Cria o Centro de Estudos Matemáticos, como parte do Instituto para a Alta Cultura. Se reunía com seus amigos durante as tardes ou noites nos cafés, para discutir a marcha das revistas e para planificar a actividad matemática.

De forma contínua impulsiona os bolseiros a publicar os seus trabalhos, muitos deles gerados no Seminário de Análise Geral. Também induz os estudantes a dirigirem-se a centros matemáticos de excelência, ocupando-se a aconselhá-los e ajudá-los a conseguir bolsas ou outros meios de subsistência. Em 1941 contribui decisivamente para fundar o Centro de Estudos Matemáticos do Porto. Nestes centros faziam-se exposições sistemáticas de temas que interesavam divulgar.

Segundo seu discípulo Hugo Ribeiro: a clara visão da urgência de trabalho verdadeiramente construtivo em Portugal, a sua incansável iniciativa e, antes de tudo, o seu entusiasmo e determinação eram imediatamente perceptiveis e contagiosos. Foi a partir destos seminários, onde chegavam as primeiras publicações obtidas por troca, que Monteiro criou o Seminario de Análise Geral e o Centro de Estudos Matemáticos. Em contraste con a explosão de hoje a Matemática prosseguia vagarosamente, e nós aprendíamos a conhecer melhor as nossas deficiências, o nosso isolamento e as deficiências de nossas bibliotecas. Nas discussões do Seminário, Monteiro punha problemas, observávamos como procurava resolvê-los, tentávamos contribuir e a pouco e pouco aprendíamos a avançar por nós próprios. Começávamos a preparar para publicação os resultados (necessariamente elementares) do nosso trabalho. Nunca mais conheci ninguém que, para aquele nosso nível fôsse tão eficiente na promoção de jovens.

Incluí esta citação do seu discípulo porque o meu Pai manteve essa atitude generosa durante toda a sua vida e em todas as Universidades onde trabalhou.

Em 1943 foi convidado para a cátedra de Análise Geral na Faculdade de Filosofia da Universidade do Brasil (hoje, Universidade Nacional do Rio de Janeiro). Para esse posto foi recomendado por Albert Einstein, John von Neumann e Guido Beck. Antes de partir para o Rio, funda em Portugal a Junta de Investigação Matemática, com Aureliano Mira Fernandes e Ruy Luís Gomes, onde se começa a publicação dos Cadernos de Análise Geral. Ruy Luís Gomes e Luís Neves Real, que foram seus colegas, lembram-se que antes de partir para o Brasil deixou no Porto uma notável mensagem, mensagem que dá bem a medida da invulgar altura de pensamento do Homem cujo talento terras estrangeiras iam aproveitar e a sua não soubera merecer. Numa palestra radiofónica meu Pai dizia:

ser investigador é um dever de todo o cidadão consciente das suas responsabilidades perante a sociedade, porque ser investigador é adoptar uma atidude crítica, perante a vida e o conhecimento, para chegar a novas conclusões.
Mas é claro que para investigar, em certos capítulos da ciência é necessária uma preparação especial, um longo treino, uma escola. As Universidades têm, sob êste aspecto, um papel importante a desempenhar, mas para isso é necessário que o ensino não vise exclusivamente a transmissão de conhecimentos, isto é, que ele não seja um ensino erudito, e portanto estéril e infecundo.
Existem, na realidade, investigadores sem qualidades para o ensino; mas nenhum professor poderá iluminar as suas lições com cores vivas e profundas, se não tiver vivido os problemas que trata, se não tiver investigado na disciplina que professa.
Torna-se necessário coordenar a actividade das Universidades e dos Institutos de Investigação com o objectivo de aumentar o rendimento da produção científica e facilitar a formação de quadros de investigadores.
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Para desenvolver e actualizar a cultura matemática portuguesa, em condições que garantam a continuidade e eficiência da obra a realizar, é necessário subordinar essa tarefa a um plano de conjunto traçado con largas perspectivas.
Os matemáticos portugueses conscientes das suas responsabilidades perante o país e perante a cultura, resolveram unir-se para a realização das missões que o dever lhes impõe.
A 4 de Outubro de 1943, um grupo de investigadores portugueses fundou a Junta de Investigação Matemática, e definiu os seus principais objectivos nos seguintes termos:

1) Promover o desenvolvimento da investigação matemática;
2) Realizar os trabalhos de investigação necessários à Economía da Nação, e ao desenvolvimento das outras ciências;
3) Sistematizar e coordenar a preparação de matemáticos portugueses;
4) Vincular o movimento matemático português com o dos outros países e, em especial, com o dos países ibero-americanos;
5) Despertar na juventude estudiosa portuguesa o entusiasmo pela investigação matemática e a fé na su capacidade criadora.

Os mesmos investigadores convidaram todas as pessoas interessadas a ingressarem neste agrupamento. ............................................................
Criar as bases fundamentais para o aperfeiçoamento e actualização da nossa cultura matemática é uma tarefa gigantesca que só pode ser realizada por vontades disciplinadas que saibam subordinar o interesse individual ao interesse colectivo.
Quando os matemáticos portugueses, sem seren solicitados, sem serem forçados, mas animados do grande desejo de servir a Nação, fundaram a Junta de Investigação Matemática, disseram ao país:
para cumprir os nossos deveres, estamos presentes.

Esta transcrição de algumas das suas memoráveis palavras, julgamos nós (diziam Ruy L. Gomes e Luís Neves Real) ser além de um dever estrito, a forma mais viva, mais eloquente de evocar o espírito da Lição altíssima que António A. Monteiro soube oferecer-nos no seu encontro, breve mas fecundo, com a Universidade do Porto.
Admiraremos o entusiasmo e a fé que o animavam, a largueza da sua concepção e a actualidade que conserva, quarenta anos decorridos , esse verdadeiro manifesto!


Eu penso que agora 57 anos depois, essas palavras ainda tem a mesma actualidade qualquer que seja o país.

Em 1977, convidado pelo Instituto Nacional de Investigação Científica de Lisboa, volta pela primeira vez a Portugal. Ocupa um posto de Investigador criado especialmente para ele, a solicitação de um grande número de professores de Lisboa, Coimbra e Porto. No Centro de Matemática e Aplicações Fundamentais da Universidade de Lisboa, abriu uma linha de investigação em Algebra da Lógica e fez uma serie de exposições sobre os seus últimos trabalhos. Durante os dois anos que durou seu estágio, sua actividade foi muito fecunda, não só pelo desenvolvimento das suas própias investigações, mas também pela orientação dada aos jovens matemáticos que se iniciaram na sua especialidade e cujas teses coroaram este trabalho. Também deu conferências na Universidade do Porto. Em 1978 redigiu uma memória Sur les Algèbres de Heyting Symétriques, que reunia os resultados das suas investigações, e que lhe valeu o Prémio Gulbenkian de Ciencia e Tecnologia desse ano. Foi publicada na Portugaliae Mathematica. Vol. 39, (1980), 1-237. De volta a Bahía Blanca, morreu no dia 29 de Outubro de 1980.

A 2 de Outubro de 2000 o Presidente da República de Portugal conderou-o (a título póstumo) com a Grã-Cruz da Ordem Militar de Santiago da Espada.

António Monteiro chegou ao Brasil em 1945. Leopoldo Nachbin, outro dos seus destacados discípulos, diz-nos: Nesses tempos, a Faculdade era o principal centro matemático de Río, que tinha começado suas actividades em 1939. Monteiro certamente manteve e acrescentou o nivel matemático e suas actividades. E continua: Ainda que eu veja hoje Monteiro como un lógico-matemático, de sangue e coração, era também un analista de sangue e coração quando chegou ao Brasil. Assim, seus cursos principais e seminários, estavam dirigidos a Topologia Geral, os Espaços de Hilbert, o Análise Funcional, e também aos Conjuntos Ordenados, aos reticulados e às Algebras de Boole. Para mim foram reveladoras as aulas de Monteiro, explicando em detalhe o teorema de representação de Stone duma álgebra de Boole através dos subconjuntos abertos e fechados de um espaço de Hausdorff compacto totalmente desconexo, algo entre a álgebra e a topologia geral, o que nesses tempos era bastante inesperado, além da sua intrínseca beleza. Se menciono isto explicitamente é porque uma das principais atitudes de Monteiro para com a matemática era a de enfatizar, no seu ensino e investigações, a unidade da Matemática.

Iniciou em 1948 a publicação das Notas de Matemática. O primeiro trabalho publicado foi precisamente um de Leopoldo Nachbin. A partir de 1973 essas notas são publicadas pela Editorial North Holland. Leopoldo Nachbin, lembra-se dele assim: Monteiro foi uma pessoa sumamente dinâmica e um Mestre insuperável no quadro negro. Tinha grande paciência e desejos de ajudar aos estudantes, tanto a aqueles melhores classificados, como a aqueles não tão promissórios, mas interessados na matemática. Devo-lhe vários dos meus principais êxitos, no meu treinamento e na minha carreira, tendo Monteiro como tutor.

Sob o impulso dado por António Monteiro no desenvolvimento da matemática da Argentina ja falará o Professor Eduardo Ortiz.

António Monteiro chegou à Argentina em 20/12/49, e tinha sido contratado pela Facultad de Ingeniería de la Universidad Nacional de Cuyo, com sede na cidade de San Juan. Até Junho de 1957 desenvolveu a sua actividade em San Juan, Mendoza e San Luis, onde existiam sedes desta Universidade.

António Monteiro chegou à Universidad Nacional del Sur (Bahía Blanca, Argentina) em Julho de 1957, contratado para organizar a Licenciatura em Matemática e o Instituto de Matemática. Os objetivos e as pautas que fixou ainda orientam a vida do Instituto. Segundo suas propias palavras, iniciou a sua tarefa dando os primeiros passos a fim de:

1) Incorporar pessoal especializado para realizar e orientar a investigação em matemática.
2) Em colaboração con o Departamento de Matemática, começar e manter a Licenciatura em Matemática, que posteriormente incluiría o grau doutoral, a fim de criar um ambiente matemático que fôsse a base para a formação de professores e de futuros quadros próprios de investigadores.
3) Criar uma biblioteca capaz de servir as necessidades do ensino e a investigação.
4) Trazer profesores para a realização de cursos avançados e seminarios de investigação.
5) Começar uma serie de publicações e manter intercâmbio com outras instituições afins.


Os seus objectivos foram amplamente atingidos, como se pode ver da seguinte, sucinta, informação:

1) De 1958 a 1974 visitaram o Instituto, a pesar das diversas dificuldades, para dar cursos e/ou conferências aproximadamente 60 Professores, entre eles: R. Sikorski, H. Rasiowa, A. Diego, O. Dodera, M. Itoh, P. Ribemboim, O. E. Villamayor, G. Alexits, J. Porte, F. Gaeta, M. Tourasse Teixeira, J. Dieudonné, R. L. Gomes, E. Zarantonello, W. Damköler , M. Cotlar, K. Iseki, B. Vauquois, E. Oklander, L. Santaló, E. Roxin, L. Cesari, P. Révész, A. Rose, J. C. Boussard, A. Micali, N. da Costa, D. Makinson, E. Gentile, E. García Camarero, H. Bauer, C. Segovia, R. Panzone, A. Benedek, E. Ortiz, J. Tirao, M. Auslander, H. Bass, C. Wall, M. Harada, E. Cabaña, I. Vincze, os quais cobriram uma ampla gama de especialidades dentro da matemática. Isto mostra a preocupação de António Monteiro por um desenvolvimento integral da matemática em Bahía Blanca, e não somente pelos temas que particularmente estudava. Alguns de estes Professores ficaram definitivamente em Bahía Blanca, e outros ficaram por um certo tempo.
2) Entre 1959 e 1963 fizeram a sua graduação os primeiros 16 Licenciados em Matemática. Alguns começaram os seus trabalhos docentes no Departamento de Matemática e outros o seu trabalho docente e de investigação no Instituto de Matemática. Entre 1969 e 1974 graduaram-se os primeiros 4 Doutores em Matemática, Darío Picco, Roberto Cignoli, Luiz Monteiro e Luisa Iturrioz, todos eles ex-alunos de A. Monteiro. Em particular dirigiu as tesis doutorais de Cignoli e Iturrioz.
3) Para criar a biblioteca solicitou, imediatamente da sua chegada a Bahía Blanca, dinheiro ao Consejo Nacional de Investigaciones Científicas y Técnicas (CONICET) e à própria Universidad Nacional del Sur. No final da primeira década a Biblioteca tinha 2.367 livros e 300 títulos de Revistas. Em 1983: 5.394 livros e 636 coleções de revistas. Sem lugar a dúvidas esta Biblioteca é, desde há muitos anos, a melhor da sua especialidade, na América Latina. O Dr. A. Monteiro transmitiu a sua experiência em bibliotecas aos novos empregados, e formou pessoal especializado. A Lic. Leticia Giretti, por quem A. Monteiro tinha uma especial estima, é desde há mais de 28 anos a bibliotecária do Instituto de Matemática; ela é também, noutro sentido, uma ex-discípula de A. Monteiro.
4) Para dar a conhecer os cursos avançados e os trabalhos de investigação en matemática feitos na nossa Universidade, começa em 1958 a colecção Monografías de Matemática, en 1964 a colecção Notas de Lógica Matemática e em 1966 as Notas de Algebra y Análisis. Estas publicações foram a base de um amplo serviço de intercâmbio, que em 1961 já tinha um apreciável volume; actualmente temos intercâmbio con 269 instituições, e elas transformaram-se num recurso importante para aumentar a Biblioteca com publicações de outras instituições similares. Transmitiu a sua experiência a vários dos seus alunos, os quais colaboraram durante anos no Serviço de intercâmbio.
5) Em Outubro de 1957, quatro meses após a sua chegada a Bahía Blanca, realizou-se nesta cidade uma reunião da Unión Matemática Argentina e em 1968 outra reunião da mesma instituição. Em 1973 ia realizar-se a Tercera Conferencia Interamericana sobre Educação Matemática (auspiciada pela O.E.A. e o CONICET) e em 1974 o III Simposio Latinoamericano de Lógica Matemática, mas devido a situação institucional imperante na Argentina nenhum de esses eventos chegou a fazer-se. Somente en 1992 se pôde fazer um Simposio Latinoamericano de Lógica Matemática em Bahía Blanca.
6) Com o fim de fazer na Universidad Nacional del Sur (U.N.S.) um centro do ensino da computação, o Instituto e o Departamento de Matemática iniciaram tratativas conjuntas ante a Embaixada de França, através do seu Servico Cultural. Assim de 1969 a 1972 chegaram à nossa Universidade os Professores P. Duquesnel, J. Tassart, J. Fossiez, M. Van Caneghan, M. Soubies e J. P. Peyrin. Em 1980 comprou-se o primeiro computador para matemática.

Vamos indicar alguns outros dados de interêsse:

1) Em 1956 recebeu um convite do Reitor da Universidad de Chile para organizar um Centro de Investigaciones Matemáticas destinado à formação e treinamento científico de jovens matemáticos chilenos. Também em 1956 foi designado Profesor Titular no Departamento de Matemática de la Universidad de Buenos Aires. Declinou essas posibilidades e em Julho de 1957, foi para a Universidad Nacional del Sur.
2) Em 1970, ao fazer 65 anos, de acordo com a lei, aposentou-se.
3) A 30 de Maio de 1972, a Universidad Nacional del Sur designou-o Profesor Emérito. Até agora é o único Professor dessa categoria na nossa Universidade.
4) A 1 de Outubro de 1974 a Unión Matemática Argentina designou-o Miembro Honorario.
5) Em Abril de 1975, o então Reitor da nossa Universidade, dá por terminados os seus serviços, assim como de outros investigadores do Instituto. Foi-lhe proibida a entrada na Universidade e também aos outros investigadores. Uma das suas maiores dores dos seus últimos anos foi a de não poder voltar à Biblioteca que ele criou e engrandeceu. Desde Outubro de 1983 a Biblioteca leva o seu nome como uma merecida homenagem.
6) O Dr. Roberto Cignoli, dilecto discípulo, em um acto de homenagem ao Dr. A. Monteiro feito durante o Quinto Simposio Latinoamericano de Lógica Matemática, realizado em Colombia em 1981, disse que Monteiro só publicava resumos de seus principais resultados, e que os detalhes e as ideias subjacentes do seu trabalho estão desseminados nas notas dos seus cursos feitas pelos estudantes. Vários de seus discípulos pedíamos-lhe que redigisse completamente seus trabalhos para a sua posterior publicação, mas cada vez que resolvia um problema não tinha paciência para redigi-lo, porque já estava começando a resolver novos problemas. Vários de seus últimos trabalhos foram redigidos e escritos à máquina por mim, e eu entregava-lhos para a sua posterior correcção.
7) En 1989 a nossa Universidade decidiu a realização de um Congresso de Matemática, com ênfase alternativo em diversas ramos da matemática, que leva o nome do Dr. A. Monteiro. Fizeram-se congressos em 1991, 1993, 1995, 1997 e 1999. O Instituto de Matemática publicou as actas dos mesmos. No próximo ano far-se-á o sexto congresso.
8) Em 1991 a Municipalidad de Bahía Blanca pôs o nome do Dr. A. Monteiro a uma das suas ruas.
9) A partir de 1994 decidi publicar seus trabalhos inéditos, como uma homenagem ao meu querido Pai e Mestre, para isso tive a colaboração de alguns ex-discípulos de meu Pai e de jovens graduados. Assim em 1996 o Instituto de Matemática publica o volume 40 de Notas de Lógica Matemática sob o título Unpublished Papers, I, que tem sete trabalhos, em particular os únicos dois trabalhos que eu fiz com ele. Esta tarefa continua e também estou preparando a publicação de diversos dos seus cursos feitos na nossa Universidade.
10) No quinto Concurso de Monografías para estudantes de matemática, realizado em 1996 e organizado pela Unión Matemática Argentina, o prémio levou o nome de António Monteiro.
11) Outro dos rasgos característicos de António Monteiro, é que nos seus cursos nos indicava, problemas abertos, da sua autoria e de outros matemáticos. Nunca ocultou quais eram os problemas que estava a estudar. Quando dava um tema de estudo a um aluno, no dia seguinte já lhe estava a perguntar como estavam os seus estudos, e de aí em diante era uma “perseguição implacável”, claro que no bom sentido. Inclusive se durante vários dias não via a um aluno telefonava-lhe para casa. Eu também tive o mesmo tratamento.
12) Em 1968, durante o Congreso Panamericano de Matemática, realizado em Buenos Aires apresentou um trabalho sobre Reticulados Distributivos, que foi elogiado pelo Professor Garret Birkhoff, que assistiu a esse Congresso. Muitas vezes pedi-lhe que redigisse esse trabalho, mas a sua resposta era: há muitas coisas que só tenho na minha cabeça e que não estão escritas. Em 1998 baseando-me em notas redigidas por ele, necessariamente incompletas, redigi esse trabalho que só foi publicado até agora numa coleção de circulação interna do Instituto de Matemática.
13) Em Dezembro de 1996, a nossa Universidade outorgou o título de Doctor Honoris Causa ao Dr. Mario Bunge, Físico e Filósofo. Ao agradecer esta distinção, fez uma homenagem ao primeiro Reitor da Universidade, Professor Vicente Fatone, que foi quem contratou o Dr. A. Monteiro e disse: os quais deixaram uma marca muito profunda na Universidad Nacional del Sur. Ao referir-se ao Dr. Monteiro, disse as seguintes palavras: esse grande homem e matemático, cuja primeira preocupação ao pisar solo argentino foi a de criar uma escola. O Dr. Bunge ainda disse: temos que agradecer ao ditador Salazar que fez a vida impossível ao Professor António Monteiro, assim ele veio para a Argentina.

É bastante difícil fazer um resumo, de parte da vida, de quem deu tudo de si, em Portugal, Brasil e Argentina, para a formação de recursos humanos e que apesar das dificuldades económicas que padeceu, sempre teve a preocupação pelo desenvolvimento da matemática na sua Pátria natal e nas suas pátrias adoptivas: Brasil e Argentina. Ainda que sempre tivesse as portas abertas para trabalhar em centros onde teria todos os recursos, preferiu os grandes desafios para levar a cabo a grande paixão da sua vida: o desenvolvimento da matemática.

Bibliografia

1) Ribeiro, H., Actuação de António Aniceto Monteiro em Lisboa entre 1939 e 1942. Portugaliae Math. 39 (1980), fasc. 1-4, V-VII.
2) Gomes, R. L., Neves Real, L., António Aniceto Monteiro e o C.E.M. do Porto (1941/1944). Portugaliae Math. 39 (1980), fasc. 1-4, IX-XIV.
3) Nachbin, L., The influence of António A. Ribeiro Monteiro in the development of Mathematics in Brazil. Portugaliae Math. 39 (1980), fasc. 1-4, XV-XVII.
4) Ortiz, E. L., Professor António Monteiro and contemporary mathematics in Argentina. Portugaliae Math. 39 (1980), fasc. 1-4, XIX-XXXII.
5) Pereira Gomes, A., O regresso de António Monteiro a Portugal de 1977 a 1979. Portugaliae Math. 39 (1980), fasc. 1-4, XXXIII-XXXVIII.
6) Brignole, D., Prof. Dr. Antonio Aniceto Ribeiro Monteiro, Revista de la Unión Matemática Argentina 30 (1981), 65-67.
7) Chiappa, R.A. y Gastaminza, M.L., Instituto de Matemática de Bahía Blanca, 1956-1983, Informes Técnicos Internos Nro. 39, Instituto de Matemática, Universidad Nacioanal del Sur, Bahía Blanca, Argentina (1984), 1-29.
8) Cignoli, R., Antonio Monteiro, 1907-1980. Revista Colombiana de Matemática, 19 (1985), 1-8.
9) Actas del Primer Congreso de Matemática “Dr. Antonio Monteiro”, Bahía Blanca, 1991.
10) da Silva, Circe M., António Aniceto Ribeiro Monteiro (1907-1980) no Brasil. ACTAS. Encontro Luso-Brasileiro de Historia da Matemática, 113-122. Editor: S. Nobre, Águas de São Pedro, São Paulo, Brasil, 1997.
11) Alves de Souza Amaral, Elza M., António A. R.Monteiro - um matemático português no Brasil. ACTAS. Encontro Luso-Brasileiro de Historia da Matemática, 123-134. Editor: S. Nobre, Águas de São Pedro, São Paulo, Brasil, 1997.
12) Monteiro, Luiz F., Profesor Dr. António A. R. Monterio y su actividad en la Universidad Nacional del Sur, Bahía Blanca, Argentina, entre 1957 y 1975. ACTAS. Encontro Luso-Brasileiro de Historia da Matemática, 135-138. Editor: S. Nobre, Águas de São Pedro, São Paulo, Brasil, 1997.
13) Cignoli, Roberto, La Obra Matemática de Antonio Monteiro, Encontro Luso-Brasileiro de Historia da Matemática, 139-148. Editor: S. Nobre, Águas de São Pedro, São Paulo, Brasil, 1997.
14) Fernández Stacco, Edgardo, Antonio A. Monteiro (31/05/1907- 29/10/1980), palavras pronunciadas na Reunión Anual de la Unión Matemática Argentina (Setembro de 2000), onde se fez uma homenagem a A. Monteiro. A ser publicado no Boletin de la Unión Matemática Argentina.
***
[Intervenção feita em 27 de Novembro de 2000, no CMUP, no âmbito das comemorações do Ano Mundial da Matemática. Agradeço ao CMUP e ao Prof. Luiz Monteiro a autorização para publicar. Ao Prof. Luiz Monteiro agradeço a cedência do original]