Monday, February 24, 2014

«Nota oficiosa» sobre as expulsões de 14-18 de Junho de 1947

O documento aqui reproduzido consta do Arquivo da PIDE/DGS, relativo a Manuel Valadares, existente na Torre do Tombo (IAN/TT). 
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(...)
As razões das expulsões de 1947, estão já bem identificadas nas duas citações anteriores. Mas pode-se ir ao pormenor.
O governo deliberou que todos os militares (11) e 13 professores (os primeiros da lista em anexo) estavam «abrangidos no artigo 1º do decreto-lei nº 25317»: «Os funcionários ou empregados, civis ou militares que tenham revelado ou revelem espírito de oposição…». Aos restantes 8 professores não foi aplicada essa disposição legal, provavelmente, porque o seu vínculo laboral era diferente. Se não era claro antes, fica mais claro agora: os expulsos eram da oposição política ao governo.
Mas, na «Nota oficiosa» que então publicou, o assunto fica ainda mais claro. Quanto aos militares, diz o governo: 
«Certo da sua razão e seguro da sua força, o Governo quase deixou desenvolverem-se livremente acontecimentos e actividades que nos últimos tempos conduziram à preparação simultânea de mais de um movimento subversivo. (…)
Não fez alargar as investigações relativas ao acto sedicioso liquidado na Mealhada em Outubro de 1946, nem à intentona que em 10 de Abril findo procurou inutilmente promover actos de rebelião na zona Tomar-Tancos-Entroncamento.» 
Confirmei que 10 dos militares expulsos estiveram envolvidos no 10 de Abril de 1947. Os militares da tentativa de golpe de 10 de Outubro de 1946, já tinham sido julgados e estavam presos.
Quanto aos professores o governo sente-se na obrigação de dar uma explicação mais pormenorizada: 
«Paralelamente a estas tentativas revolucionárias, diversos processos de desordem se esboçaram em Lisboa e noutros pontos do País. Fez-se a greve nos estaleiros e nalgumas outras zonas industriais da capital e fomentou-se a agitação dos meios académicos, especialmente universitários, com reuniões de protesto contra medidas policiais, além de legítimas, estranhas à vida escolar. Ostensivamente ou por detrás desta agitação, estava uma incipiente organização juvenil em que se depositaram esperanças exageradas, visto não ter sido possível aos dirigentes manter ocultas por muito tempo a inspiração e tendências do movimento.
Tratava-se de perturbações de carácter nitidamente político e não académico. E tanto que só foi impossível pôr-lhes termo por meio de acção exclusivamente académica, onde as autoridades escolares e o próprio ambiente da escola lhes eram propícios. É sabido que houve professores e assistentes que ostensiva ou veladamente animaram a agitação e os agitadores. Mostraram interessar-lhes mais o apostolado ideológico do que o exercício do seu múnus docente.» 
Aqui, o governo faz referência à greve, que durou 21 dias, de milhares de operários dos estaleiros navais e de outras indústrias, que terminou vitoriosa mas também com centenas de prisões. É curiosa esta associação que é feita entre operários, MUD Juvenil e professores universitários. Se quisermos reunir em poucas palavras as razões pelas quais os professores foram expulsos, talvez bastem quatro: Movimento de Unidade Democrática.
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Excerto de
Sobre as perseguições a cientistas durante o fascismo (Revista Vértice 166)

Movimento de Unidade Democrática (lista do Jornal República de 11 de Novembro de 1945)

Novas personalidades nas Comissões do Movimento
O sr. prof. Barbosa de Magalhães, depois do sr. dr. Manuel Portilheiro ter protestado contra a apreensão das listas no seu escritório em Portalegre, propôs que fôsse aprovado por aclamação o relatório da Comissão, o que foi aprovado, voltando a ouvir-se ardorosos «vivas» à República e à Democracia. Falaram ainda vários oradores, entre êles os srs. drs. Vítor Santos José Bacelar, Abílio Rodrigues e Roque Laia, tendo-se resolvido que da Comissão Central passem a fazer parte os srs. profs. drs. Barbosa de Magalhães e Bento Caraça; drs. Pedro Pita e Fernando Mayer Garção; o escritor Alves Redol, e o operário Alberto Dias além dos srs. drs. Lima Alves e Teodoro Carvalho dos Santos e Manuel Mendes que eram já membros da comissão primitiva. Por proposta do sr. dr. Heliodoro Caldeira, passará a haver também comissão consultiva, que seria, em princípio, constituída pelas seguintes pessoas:
General Norton de Matos, Embaixador Duarte Leite, dr. António Luiz Gomes, antigo Ministro, dr. António Sérgio, escritor e antigo Ministro; Alexandre Ferreira, agente de seguros e antigo deputado; dr Lobo Vilela, professor e escritor; dr José Bacelar, médico e publicista; dr. Mário de Castro, advogado e publicista; dr. Jacinto Simões, advogado; dr. Antonino de Sousa, escritor e advogado; João Pedro dos Santos, comerciante; dr. Martins de Carvalho, professor do liceu e publicista (Coimbra); dr. Rui Luiz Gomes, professor da Universidade do Porto; dr. António de Macedo, advogado e publicista (Porto); dr. Anselmo Ferraz de Carvalho, professor da Universidade de Coimbra; Carvalhão Duarte, director do jornal República;dr. Armindo José Rodrigues, médico e escritor; dr. Pulido Valente, professor da Universidade de Lisboa; dr. Luiz Sueiro, médico; Alexandre Vieira, operário gráfico; Silvino de Noronha, operário; Alfredo Franco, industrial; dr. Carlos Olavo, advogado e publicista; dr. Inácio Fiadeiro, advogado; dr. Fernando Fonseca, professor da Universidade de Lisboa; dr. Manuel Valadares, professor da Universidade de Lisboa; dr. Ramos da Costa, contabilista e publicista; dr. Branquinho de Oliveira, professor da Universidade Técnica; dr. Ferreira de Macedo, professor da Universidade Técnica; dr. José Carvalho dos Santos, advogado, Pinto Quartim; jornalista.
Tenente-coronel Lelo Portela, D. Maria Isabel Aboim Inglês, professora; Elina Guimarães, licenciada em Direito e publicista; Irene Lisboa, escritora; Maria Lamas, escritora; Rocha Martins escritor; Ferreira de Castro, escritor; coronel Helder Ribeiro, antigo ministro; dr. João de Barros, escritor e antigo ministro; dr. Pinto Barriga, professor da Universidade Técnica; dr. Marques Teixeira, professor da Universidade do Porto; João Silva, escultor; dr. Eduardo Cruz, professor do liceu (Porto); dr. Flávio Resende, professor da Universidade de Lisboa; dr. Henrique de Vilhena, professor da Universidade de Lisboa; dr. Paulo Quintela, professor da Universidade de Coimbra; Fernando Lopes Graça, compositor e publicista; dr. Manuel Rodrigues Lapa, antigo professor da Universidade de Lisboa e escritor; dr. Veiga Pires, médico (Porto).
Dr. Mário Silva, professor da Universidade de Coimbra; dr. Abel Salazar, antigo professor da Universidade do Porto; dr. Dias Amado, professor da Universidade de Lisboa; dr. Afonso Duarte, poeta; Carlos de Oliveira, escritor (Coimbra); dr. Mário de Azevedo Gomes, professor da Universidade Técnica; dr. Santiago Prezado, escritor; dr. Joaquim Namorado, escritor (Coimbra); dr. Fernando Pinto Loureiro, assistente da Universidade de Coimbra; dr. Vitorino Magalhães Godinho, antigo professor da Universidade de Lisboa e escritor; dr. Ramos de Almeida, advogado e escritor; dr. Miguel Torga, médico e escritor; dr. Tomaz da Fonseca, professor; dr. Luiz Cebola, médico; Herculano Nunes, jornalista; Rodolfo Higino da Silva, tipógrafo; dr. Manuel Campos Lima, escritor; Fernando Homem de Figueiredo, ferroviário; Carlos Henriques, engenheiro (Porto); Júlio César de Almeida, antigo oficial do Exército; Simplício Marques doa Santos, carpinteiro; Jacinto Ramos Martins, empregado de escritório; dr. Cascão de Anciães, professor da Universidade de Lisboa; João Pedro dos Santos, arsenalista reformado; Falcão Trigoso, pintor; dr. Domingos Leite Pereira, antigo Presidente do Ministério; dr. Mário Moreira, professor da Universidade de Lisboa; dr. Lopes de Oliveira, professor e escritor; dr. Alberto Candeias, professor e publicista; António Alves dos Reis, ferroviário; João Pina de Morais, escritor e antigo oficial do Exército, dr. Fernando Azeredo Antas, médico (Porto); dr. Luiz da Câmara Reis, professor e escritor; dr. António Osório, advogado; dr. Rebelo Gonçalves, professor da Universidade de Coimbra;Keil do Amaral, arquitecto; dr. Eduardo Ralha, advogado (Porto); dr. Mário Dionísio, escritor; dr..Luiz de Almeida, professor (Coimbra); dr. Serrão de Moura, médico; Francisco Salgado Zenha, estudante (Coimbra).
A inclusão dos nomes dos srs. drs. Nuno Simões e Ramada Curto, foi proposta para ficarem representadas as correntes políticas a que pertencem.
O sr. eng. Sá Cardoso propôs um minuto de silêncio em homenagem aos mortos da Democracia. Voltaram a ouvir-se calorosos «vivas» à República, a assistência, cem o mais ordeiro sentido, cantou de novo o hino do Movimento e o hino nacional, saindo-se com a mesma ordem da entrada.

Sunday, February 23, 2014

Movimento de Unidade Democrática (lista do Jornal República de 10 de Novembro de 1945)


Manuel Valadares, Mário de Castro, Bento Jesus Caraça, Francisco Mendes, Manuel Zaluar Nunes, Aurélio Marques da Silva, Gustavo de Castro, Jaime Xavier de Brito, Irene Lisboa, Vergílio Ferreira, Mário Dionísio, Manuel Mendes, António José de Sousa, Câmara Reis, Fernando Lopes Graça, Flausino Torres, Cândido Costa Pinto, Emílio Costa, Alberto Candeias, Maria Archer, Emílio Aparício Ferreira, Ferreira de Castro, Alves Redol, Manuel Campos Lima, Mário Tavares Chicó, Avelino Cunhal, Edmundo Bettencourt, Branquinho da Fonseca, João Gaspar Simões, Adolfo Casais Monteiro, Alice Pereira Gomes, Raul do Rego, Manuel Malheiro Fernandes Viana, Euclides da Silva Vaz, António da Rocha, Manuel da Fonseca, António Passos, João de Barros, João de Deus Ramos, Rocha Martins, Adriano de Gusmão, Aleixo Ribeiro, Henrique T. Queiroz de Barros, Edmundo Curvelo, Aquilino Ribeiro, Carvalhão Duarte, João Falcato, Castro Soromenho, José Régio, Hernâni Cidade, Jacinto do Prado Coelho, Augusto Casimiro, Campos Lima, Vitorino Nemésio, João da Silva, F. A. da Costa Cabral, João Soares, Magalhães Vilhena, João de Oliveira Machado, Fernando da Costa Cabral, Assis Esperança, Arlindo Vicente, José Gomes Ferreira, Armindo José Rodrigues, Mário Neves, José de Bragança, Julião Quintinha, Roberto Nobre, Cristiano Lima, Jaime Leitão, Gomes Monteiro, Manuel L. Rodrigues, J. Ferreira de Albuquerque, Mário Rosa, Ramada Curto, Norberto Lopes, Artur Portela, Manuel Nunes, José Ribeiro dos Santos, Norberto de Araújo, Carlos Ferrão, Francine Benoit, Visconde da Lagoa, José Bacelar, Mário Sacramento, Pulido Valente, Manuel Rodrigues Lapa, Carlos F. Torre de Assunção, Francisco Ramos da Costa, Lopes de Oliveira, José da. Freitas, César dos Santos, Guedes de Amorim, Pinto Quartim, Francisco José Tenreiro, Armando Ventura Ferreira, João Pedro de Andrade, M. Ramos da Cunha, Faure da Rosa, Mário Armando de Oliveira Soares, Pedro Augusto Franco dos Anjos Teixeira, Maurício Meireles Penha, Júlio Pomar, Vasco Pereira da Conceição, José Farinha, António dos Santos, Manuel de Oliveira, Júlio Santos, Lino António, João de Melo Falcão Trigoso, Celestino de Sousa. Alves, Álvaro Perdigão, Manuel Ribeiro de Pavia, Castelo Branco Chaves, Manuela de Azevedo, Álvaro Salema, Lília da Fonseca, Frederico George, Manuela Porto Araújo Pereira, Roberto Araújo, Manuela Lima, Armando Mesquita, José Miranda do Vale, Idalino Rodrigues Gondim, João Rodrigo de Oliveira, Fernando Marques da Silva, Augusto Leite da Costa, José Ferreira Huertas Lobo, João Simões, Francisco de Assis, Alfredo Guisado e Lobo Vilela.
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Ver:
Sobre as perseguições a cientistas durante o fascismo (Revista Vértice 166)